O momento de luto por um ente querido é, na maior parte das vezes, muito delicado. Durante esse período frágil, cada indivíduo tem uma forma de lidar com a saudade, mas, existem aqueles que têm mais dificuldade em superar esse momento e continuam na fase de negação. Em vista disso, uma outra percepção da morte deve ser feita, mas como?
João Gonsalves, a técnica da Autosofia desenvolvida por ele, é essencial para desenvolver o autoconhecimento, tanto para a superação da saudade, quanto para desenvolver a independência emocional. O autoconhecimento gera a percepção de outra realidade das coisas, no caso, a morte, que pode ser ressignificada ao sabermos a realidade que somos e que perdura mesmo após a “morte”.
Essa percepção pode causar variados sentimentos, mas, principalmente, de tranquilidade, até porque, a única certeza da vida é a morte, e quando sabemos o que de fato é a “morte” sabemos que não é o fim de nada, e sim uma mudança de frequência da consciência.
“O autoconhecimento através da Autosofia e a interpretação sobre a morte ‘caminham juntos’, pois passa a ser possível entendê-la de uma maneira mais pacífica”, finaliza Gonsalves.
10 passos para enfrentar o luto
Leia mais
Finados e luto: como lidar com perdas irreparáveis?
O país do luto: como lidar com a tristeza nossa de cada dia
Famílias de mortos pela Covid-19 sofrem mais para elaborar o luto
Como culturas diferentes lidam com o luto
Diferentes culturas lidam com a morte de diversas maneiras. Veja três exemplos:
México: De acordo com a crença, os mortos “voltam” para visitar parentes vivos entre os dias 1 e 2 de novembro. Para recebê-los, os vivos enfeitam suas casas com flores, preparam a comida favorita de quem partiu, usam máscaras de caveiras, fantasias de morte ou pintam suas roupas com formato de esqueletos
Islã: Após o falecimento de alguém, não se deve ter lamentação, mas sim, equilíbrio. Ao receber a notícia, os muçulmanos comportam-se pacientemente e aguarda o consolo de Deus. A oração do funeral deve ser de obrigação coletiva e, normalmente, a pessoa em vida escolhe quem irá orar sobre seu corpo no funeral, depois, segue por preferência ou pela ordem: delegado, pai, avô, bisavô, filho, neto, bisneto e, então, parentes íntimos. Nos dias seguintes ao funeral, os familiares fazem a leitura do Alcorão em mesquitas e reuniões.
Brasil: No cristianismo, os mortos são lembrados no Dia dos Finados, onde dedicam orações e homenagens a quem partiu. As homenagens podem ser realizadas de diversas maneiras, como a decoração de túmulo, com flores e queima de velas. Além disso, a data é considerada pelos cristãos um momento essencial para aprender com as perdas da vida e valorizar a vida que temos.
Tradições em colônias de imigrantes são adaptadas com Covid-19
“Agora, em tempos de coronavírus, a presença é limitada e muitas pessoas ficam nas ruas, entre a igreja e o cemitério, para acenar para os enlutados e assim prestar sua solidariedade”. O relato é da Roselin de Best, moradora de uma colônia holandesa em Carambeí (PR), sobre como as famílias de imigrantes precisaram adaptar suas tradições de apoio a quem perdeu amigos e parentes durante o período de pandemia. Com os cuidados de distanciamento social, a tradição fúnebre também foi afetada e a solidariedade às famílias tem sido prestada a distância.
Mesmo com as adaptações, a forma com que as pessoas lidam com a morte e o luto está muito relacionada à cultura e à tradição local. Visitas a cemitérios, flores, velas, cantigas e orações fazem parte dos costumes de muitas famílias no dia 2 de novembro. O ritual criado na Roma do século XII tem um forte significado para a Igreja Católica e seus seguidores. No Dia de Finados, amigos e familiares que morreram são homenageados em rezas e orações, um ato para interceder pelas almas que estariam no purgatório passando por um processo de purificação, segundo a fé católica cristã.
No Brasil, a morte é vista como um assunto delicado e que causa certo incômodo pelo luto e ausência de entes queridos. Mas, em regiões com forte influência da imigração, tradições relacionadas à despedida trazidas pelos primeiros imigrantes são mantidas. É o caso das colônias holandesas no Paraná, que resgatam no Brasil a forma com que os Países Baixos encaram a morte.
De acordo com Roselin, a Holanda vê a morte como um fato que faz parte da vida e pelo qual todas as pessoas irão passar em um determinado momento. “A cultura holandesa encara a morte de uma maneira mais natural, não faz muito mistério. Claro que ficam tristes, de luto, mas falam mais abertamente sobre a morte. Em holandês a palavra seria ‘nuchter’, que traz um tom menos emotivo talvez”, conta Roselin.
Os próprios rituais fúnebres revelam essa naturalidade holandesa. Tradicionalmente, toda a comunidade se envolve nos preparativos do velório em solidariedade à família e unidos pela Igreja. Enquanto o Dia de Finados no Brasil tem influência da Igreja Católica, os costumes holandeses estão ligados à Igreja Reformada, seguindo a linha Calvinista. Bernardo Bouwman, morador da colônia holandesa Castrolanda, em Castro (PR), conta que a igreja tem um papel fundamental na comunidade, prestando suporte para a família e unindo voluntários.
“Quando alguém morre, o presbítero é imediatamente avisado para visitar a família e organizar tudo. O interessante é que a família não se envolve com o enterro. O presbítero reúne todos os vizinhos e separa quem vai ficar em casa cuidando da família, quem fica responsável pela alimentação e até quais serão os vizinhos que vão abrir a cova para enterrar o corpo. E toda essa união da comunidade é feita de forma voluntária para que a família não se preocupe com nada”, comenta Bernardo.
As diferenças de culturas também estão presentes na construção dos cemitérios. Com jardins amplos e uma estrutura minimalista, esses locais reforçam a naturalidade dos Países Baixos. “O cemitério da nossa Igreja IERA (Igreja Evangélica Reformada Arapoti) é diferente também por questão da tradição reformada, que é mais discreta, diferente da tradição católica, que usa túmulos mais elaborados”, comenta Janet Bosch, moradora da colônia holandesa em Arapoti (PR).
No Brasil, essas colônias mantêm viva a tradição holandesa, mas a migração pode mudar alguns costumes. Na Holanda, os corpos são velados por uma semana, enquanto no Brasil dura no máximo 36 horas. Tal diferença acontece pelo clima. O frio europeu permite a conservação dos corpos, o que é inviável no Brasil por causa do clima tropical. “A tradição de um povo é vista de muitas formas e todas elas são importantes para preservar a riqueza de uma cultura e fazer com que cada ritual siga de geração para geração”, diz o vice-presidente da Associação Cultural Brasil-Holanda, Albert Kuipers.
Com Assessorias